"Omnia Vincit Amor"... muitos acreditam ser, esta frase, uma utopia de Virgílio, eu prefiro acreditar que o amor sempre vencerá ou, que pelo menos, irá nos redimir...

"dos silêncios que coleciono na noite" - Parte 3

Imagem: Matthew Albanese

I_
os jardins estão espremidos entre o perfume
                                                 e a existência.
no fundo do tempo uma primavera esquecida
                                                                  &
os dedos animais de éter, músculos e ossos
a se contorcerem .

nas ladeiras encobertas de espumas,
uma doçura horrível, melancólica, reluz uma paisagem
                                                   contínua de saudades
que se interpõe à vida e o silêncio compacto de um retrato
devastado por uma alegria que muda de cor.

tento durar pelo tempo, acender para a imortalidade
                                                  de um momento.
enquanto engulo uma drágea de minha Lyrica pela manhã,
enganando minha lúcida epilepsia

antidepressiva Lyrica, falsas portas de uma paz extinta
do sonho que se volatizou numa chama única
fundindo o ardido de teus olhos nas lágrimas
que sempre descem pelo vazio dos dias e das noites.



II_
um exercício, esse, o de ser silencioso
e encontrar na ironia irreprimível
a doçura do segredo
e nas chuvas, nas últimas chuvas,
onde o azul do céu é mais azul,
sonhar pelos meses e cair das alturas
onde as palavras são trevas inocentes.


III_
digamos que nos jardins das tulipas
ficou na memória, oculto,
                    o entusiasmo do mundo
e uma clareira se fez ao lado da fonte.

digamos a nós mesmos, digamos,
que os nossos pés acostumados a orvalho
                                                    relva
                                                         &
ao caminhar tranquilo da sombra
protegeram-se das pedras e absorveram
essa melancolia perene que não se extingue...

(no sono de olhos abertos, a musa segue
curvando-se sobre os arcos de flores).


IV_
tudo.
divinamente tudo nos período dos instantes acesos.
as casas estão a meia altura, algo artificial sobre
esse chão que se esgota no tempo para renascer de novo.

ruidosos, os tratores comeram algumas raízes
e os cavalos, ao largo, assistiam impassíveis.
ergueram-se colunas, e o mármore conheceu
                              as patas do gafanhotos.

tudo.
uma infindável paisagem divina
uma densa construção dos sentidos.


V_
a imagem diurna ordena aos olhos
que uma réstia de escuridão é o espanto.
                                   espantamo-nos.

os dedos, feridos de faca, tal qual garças
que voam baixo no entardecer, sem o lugar do pouso,
                                                  inventam um voo,
                                                            uma trilha,
deixando nas suas pegadas, rastilhos e invenções
de coisas puras e tristes.

uma eternidade dadivosa, secreta
enigmaticamente, entre as paisagens inclinadas,
arquitetam os versos que precisam ser escritos.

                              deslumbramentos.
                                      suspensões.
                               estrelas da alma.
animais de pó se tocam no firmamento.

rios de rosas e espinhos de águas
carregam a esperança e a força divina
que permite, ao verso, seguir.


daufen bach.

7 comentários:

Uma obra de arte, da mais bela poesia e construção literária. Parabéns por seu trabalho tão bem elaborado! Beijo

llegar a tu blog me sorprende siempre y aunque batallo por el ideoma me voy al traductor y disfruto mucho tus poemas amigo Daufen es un placer llegar a qui,un abrazo.

Caramba, Daufen! Fiquei impressionada com seus poemas, intensos, sábios e profundos!! Arrasou demais, adorei!!! E viva o amor!!

Beijo enorme!!!

Meu caro amigo,

você tem a força Divina da palavra consigo!!!

Fantástico poema!

Um abraço de feliz Natal!
Jorge

meu amigo,

sempre Belíssima a sua poesia!

muitos abraços
jorge

Sou honrado em poder desfrutar de tão lindo texto! Parabéns meu amado amigo e irmão das letras.
Você é um ser que me inspira nesta caminhada dos versos.
Bravamente obrigado!

Fico honrado em ler seu belíssimo versos.
Sou um ser privilegiado em ter uma amigos e uma irmão das letras como você.
Você é um ser que me inspira nesta caminhada dos versos.
Bravamente muito obrigado por tudo! Viva a literatura, a arte dos versos, viva a vida!
Abraço na alma...
Dhiogo Caetano