"Omnia Vincit Amor"... muitos acreditam ser, esta frase, uma utopia de Virgílio, eu prefiro acreditar que o amor sempre vencerá ou, que pelo menos, irá nos redimir...

[impudicos]


impudicos

      ao teu ouvido,
antes de obedecer apenas aos teus pedidos.

o desejo queima mesmo os corações mais castos. é a beleza mais antiga, o
sentido mais primitivo,
     o animal a contorcer-se nas fímbrias do pensamento
no tenso debate entre a liberdade consciente  do sentir, e o poder aprisionado do realizar. esse consumir-se em subjetividades,
                                   esse delicioso pecado,
                                   esse fazer que tornam unos, o profano e o sagrado. que traz para minha pele e para os meus pelos a voracidade de bicho e a
virilidade tacanha do insaciável, banhada nas sensações mais humanas do
sentir, numa luta em te fazer mulher santificada a gemer gozo no bico dos seios arrepiados.

assim te vejo, pura poesia... dama na noite, a estrela guia que toma o céu e ignora os faróis, uma antagonia que me despe do homem perdido em teus lençóis e me faz o animal que te sacia... depois amanhece, com olhos de criança.




[impudico_1]

te arrastas nua pelos lençóis.  a conjunção perfeita da luz com o tecido
prendido entre tuas pernas acende a faísca. move-se.

(tua trama está em acender em meus olhos o desejo que me consome
e o instinto, o animal instinto de estar prendido entre tuas coxas 
a sentir o teu calor e a tua bondade oferecida.
me sacias enquanto faço-me escravo das vontades que segredas).

serpenteias.
insinua-te.
deita sobre meus braços e beija-me o peito. a tua boca tem o calor exato,
a mornidade que queima sem ferir, a umidade que arrepia sem molhar...
a tua boca é vívida lascívia,  aconchego,  ternura... é piedosa.

permito-te que me tomes, mas não estás a tomar-me!

como um servo que, para saciar-se na fonte, prostra-se humildemente,
assim me posto diante de teu corpo, diante dos bicos de teus seios que teimam esse atrito suspenso de pele contra pele.
estás  colada a mim, as pernas sobre as
minhas pernas. os cabelos, macios como rendas bordadas a mão, me amarram, entrelaçam, envolvem-me... mas não há cadeados, nós ou amarras, estou prendido apenas pelo desejo de estar prendido.





[impudico_2]

fecha os olhos, sussurra e vira-se, no íntimo sorri, sabes que é dona...
sinto o teu cheiro e tremo.
como aquele que esculpe detalhes no cristal, vestido de cuidados e de medos, passeio as mãos pelas curvas e saliências...
a sentir a textura, a perceber que os cristais se forjam no fogo, torno-me intenso e busco a medida da força que te serve, que tu suportas.

  permissiva,
a confiar  na mão que desbrava as coxas, abre as pernas devagar.
nesse
ritual sem melindres, alheio a pressa, torna-te inteira cúmplice, torna-te inteira entregue, não mais se distingue o possuidor do possuído... não sabe mais se é minha língua que roça teu pescoço ou, se são teus ombros que procuram meus dentes...

(aquele que é amado e o que se faz amante perdem  a identidade quando
  se tornam unos.)

a luz, essa antiga luz não precisa de toda a intensidade. meu corpo teso inclinado sobre o teu e os teus seios enrijecidos, sabem todos os caminhos e aceitam todos os mistérios. a mão prendida entre tuas coxas, a acariciar o monte, a comprimir tua vulva é sabedora dos destinos. os dedos sentem a umidade, penetram lentamente...uma respiração mais afoita, um gemido contido e a noite inicia-se, limpa de véus e de pudores.


daufen bach. 




16 comentários:

Nossa! Esta viagem poética, me fez mergulhar no complexo e estonteante mundo do amor, que nos transporta para os caminhos do prazer e da exultação. FANTÁSTICO!
Receba aqui meus aplausos por sua sensibilidade e criatividade.
Bravo poeta querido.

Olá Daufen! É mesmo o que dissestes, "uma leitura de cunho sensual,
erótico, mas sem o apelo da vulgaridade"... gostei! Te desejo sucesso! Um grande abraço de paz e luz! Rosana

Parabéns, grande escritor e poeta! O texto denota muita sensibilidade e percepção dos sentimentos que emanam entre dois corpos conectados através do que há de mais sagrado entre os seres humanos; a relação sexual desprovida da culpa e da repressão milenar. Pura inocência, acima de todos os julgamentos e critérios estabelecidos socialmente. Abraços e muita energia para você... Obrigado pelo texto!!

Teus contos são belos, assim como teus poemas e tudo que escreves,caríssimo Daufen.E estão longe da vulgaridade.Neles,o belo não é somente a louvação à amada.É como a enaltece, à eleva para o sensual.
Abraços,querido!

Ainda não sei se são poemas banhados em prosa ou se são prosas delicamente vestidas de poesia, mas de uma coisa eu sei: são lindos! Vc sempre vai ser "O Poeta".

...

Parabéns pela belíssima composição. É muito bom ler-te!

Caro daufen, bom dia!
Acabei de ler o teu "Impudicos" (eu, graças a Deus, não o sou!) e devo mais uma vez fazer-lhe reverência pelo teu talento e tua habilidade para compor sempre algo novo, ainda não-dito, inédito, para a nossa alegria. É sempre um grande prazer ler os teus textos, quaisquer sejam, para tentar descobrir mais, muito mais do que está visível numa primeira leitura, porque posso garantir que haverá, embutidas nas tuas poesias, crônicas ou outros estilos, mensagens que só várias e atentas leituras poderão se mostrar. Um abraço, meu amigo e uma maravilhosa semana para ti e tua família.
Remisson
www.nossomundo.bligoo.com.br

Tem razão, Dalfen, contos sensuais sem o recurso da vulgaridade, tão aproveitado por tantos que não têm o seu talento e sensibilidade. Parabéns!

Eu não promovo muitos comentários em trabalhos sensuais, por puro tabu...
Mas, existem uns tantos trabalhos sensuais, muito bons, o seu mesmo é um deles! Parabéns!

O homem é o que pensa e torna-se sujeito do seu pensmento! Lindo poema.

O que dizer, moço? Sem palvras...só posso aplaudir esse momento tão criativo, sensual, elaborado e poético demais!


Beijos

Gracias Daufen hace mucho que no te leía...Hermosa la serie impúdica!

Querido poeta

Meus aplausos por seu talento
estavam muito bem guardados.
Hoje, pude enfim soltá-los e são tantos que nem cabem nesse pequeno espaço.
E um intecâmbio salutar. Todos ganham! Quem escreve e quem lê!
Seus poemas são nota 10!

Sandra Reis.

Sempre que te leio Dauf, algo incomum (para mim) acontece; um suspiro profundo me absorve pelas tuas divagações (?) e o nó na garganta que estrangula a lágrima é desatado ( fragmentos da poesia lágrima de minha autoria)e minha alma é lavada como por bálsamo, mas Sofia se acende e se queima no enxofre.
Tua poesia tem um ritmo diferente, eu gosto!

Olá Daufen,
hoje pude ler calmamente seus versos e viajei nos sentidos despertos durante a leitura. Gostei.

voltarei.

www.preteritosmatinais.blogspot.com

Poesia forte e carregada de sensualidade vulcânica!

Adorei

Parabéns!

Abraço